terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta à uma póia II

Minha amiga, pelo amor de Deus, desconfie! Desconfie de quem muito usa a memória, muito sabe e muito já estudou. Desconfie de quem não usa o coração e o esconde atrás dos livros que leu, das músicas que ouviu e dos lugares que conheceu. Não se encante por este tipo de gente... ou pior, não queira ser assim, dona de biblioteca.

Este tipo de vida não garante nada, viver é perigoso de qualquer jeito, pior ainda ignorando os riscos. Lembra-se de uma historinha que te contei um dia? Um sábio iria atravessar o rio e já na embarcação perguntou ao barqueiro se ele havia estudado gramática e ao receber resposta negativa sentenciou ‘pois você perdeu metade da vida’; passado algum tempo o barqueiro pergunta ao sábio ‘você aprendeu a nadar?’, o sábio diz que não e recebe a notícia ‘pois perdeste a vida inteira’.

Não tenha vergonha, minha flor, de usar o word constantemente para verificar se é ‘s’ ou ‘ss’, ‘x’ ou ‘ch’. Vergonha eu terei de ti se passares por ai cheia de dados na cabeça e não souber contar uma piada, se não souber rir do tempo ‘perdido’, se errar e achar - senão por um minuto - que é o fim do mundo , se não se envolver com o encanto de uma criança e como ela que nada sabe e nem pretende.

Não se engane, como eu, achando que vida é descrita em tratado científico e em sistema filosófico, vida é liberdade poética. Pra ser artista não é preciso conhecer a história da arte é só pulsar no ritmo do coração.

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