domingo, 26 de junho de 2011

torna-me oceano

Pensando nessas dores reincindentes lembrei que li em algum lugar que a impermanêcencia é uma das caracteristicas da vida. Água parada não é vida. Vida é rio. Vida é desaguar no mar.

Nas minhas orações eu não peço casamento e bom marido, nem emprego e bom salário. Peço ser rio e sem medo desaguar no mar, e não ser poça de água parada, que sente sempre as mesmas coisas.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Caixa de pandora

Eu estava no meio do caminho de superar este medo, no caminho de não sofrer com a coroca dor, mas eis que ela me surpreende impaciente e grita sua volta me dizendo que eu fiz pouco, que eu andei devagar. E meu coração todinho doeu. E meu coração todinho ainda dói, ainda chora sem entender o pq dessa dor o aporrinhar mais uma vez e logo agora que eu já sabia dela, só não esperava essa rasteira, não tão rápido assim, sem me permitir caminhar mais um pouco a sua frente.

O coração dói todinho. E apesar de ter sentido culpa, de ter achado ‘deveria ter feito mais’, eu sei que fiz o que podia, o que sabia no momento, muito mais do que fiz nas outras vezes, eu fui covarde sim, eu ainda tinha o medo, mas já era muito menor, e seria quase inexistente se eu tivesse mais um tempo. Mas não vou lamentar. O coração dói todinho, mas vai passar. Essa dor vai passar, esse medo vai acabar e um dia eu vou lembrar desse dia como uma dia superado, vou olhar no olho dessa dor e ela não vai mais me machucar e esse medo não vai mais tornar morosa a minha coragem.

Talvez eu tenha subestimado essa dor, depois de ter superado outras dores aparentemente maiores, aparentemente mais cruéis eu julguei estar imune de dor, ter tomado a vacina. Eu julguei que ter visto o mundo de cima uma vez nunca mais me faria amargurar tantas perdas e desilusões, essas que senti deste então. E o coração doeu todinho enganado, desconsolado.

Depois de tudo de inesperado ter saído da caixa de pandora me resta a esperança de que meu coração ainda dói, mas essa dor será superada como as outras foram, esse engano será desfeito como os outros foram.


"Não é raro, tropeço e caio. Às vezes, tombo feio de ralar o coração todinho. Claro que dói, mas tem uma coisa: a minha fé continua em pé." Ana Jácomo

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vai passar



Olhe, não fique assim não vai passar. Eu sei que dói, é horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar.

Dor é assim mesmo: arde, depois passa. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta as dores da vida. Pense assim: agora está insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

o máximo que eu puder

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. Estarmos na nossa própria pele não é fácil e essa percepção é capaz de nos humanizar o bastante para nos aproximarmos com o coração do entendimento do quanto também não seria fácil estarmos na pele de nenhum outro. Por maiores que sejam as diferenças, as singularidades de enredo, as particularidades de cenário, não nos enganemos: toda gente é bem parecida com toda gente. Toda gente é promessa de florescimento, anseia por amor, costuma ter um medo absurdo e se atrapalhar à beça nessa vida sem ensaio.







 Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável o suficiente para cada vez mais encarar os desconfortos todos fugindo cada vez menos, sabendo que algumas coisas simplesmente são como são, e que eu não tenho nenhuma espécie de controle com relação ao que acontecerá comigo no tempo do parágrafo seguinte, da frase seguinte, da palavra seguinte. É me sentir confortável o suficiente para caminhar pela vida com um olhar que não envelhece, por mais que eu envelheça, e um coração corajoso, carregado de brotos de amor.

Na propria pele de Ana Jácomo

segunda-feira, 6 de junho de 2011

a justa oportunidade

Não sou do tipo que sente pouco, não é oito ou oitenta, comigo é oitocentos. E nessa eu já não tenho mais unhas, teclar doem as pontas dos dedos, eu sai hoje com uma calça que semana passada eu julgaria suja, com uma blusa que mês passado eu levaria para doação e com a cara amarrada feito criança mimada desejando pena. Do que isso adianta? Pra que me serve escrever cartas, pretensos manuais, se quando o coração que dói é o meu não consigo deixar que ninguém me ajude a curá-lo? Nada.

A verdade é que a culpa que aperta meu coração não faz o tempo voltar e eu – ao contrário de magoar - sorrir sinceramente, ou ela não vai lá e pede desculpas. As lágrimas de arrependimento não são capazes de retirar a marca ruim que eu deixei por mero descuido, ou mesmo medo e egoísmo besta de quem quer prender-se em si mesmo, de quem não quer ser conhecido, de quem quer mentir que não precisa do outro e de quem não admite que é frágil, fraco e precisa de ajuda.

E hoje depois de perguntar sem resposta porque eu continuo manca assim, porque essas feridas continuam abertas, depois de eu ter acreditado que essa sensação não voltaria, a minha oração termina pedindo a Deus a justa oportunidade de remissão.




PS: É nessas horas que a gente percebe que é muito difícil deixar-se erguer pelo outro, ser o manco ou o cego da história enquanto se pretende ser o mascarado fariseu.

não desistir

É inevitável que chegue um instante em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais. Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem. Inábeis com a paisagem aos poucos revelada, às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades, por mais libertadoras que sejam. É em vão. Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos.

Não importa o quanto às vezes seja difícil, o quanto às vezes eu me atrapalhe, o quanto às vezes eu seja a densa nuvem que esconde o meu próprio sol, quantas vezes seja preciso recomeçar: combinei comigo não desistir de mim.

Ana Jácomo


Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar


Vanessa da Mata